Home Especial Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos se prepara para o turismo ecológico e rígida proteção ambiental a partir de julho

Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos se prepara para o turismo ecológico e rígida proteção ambiental a partir de julho

por Melissa Maciel

Após décadas de preservação, a única unidade de conservação marinha do RS inicia abertura gradual ao público com atividades como caiaque, stand-up paddle e observação embarcada serão permitidas com regras rígidas.

A proposta de abertura gradual contempla inicialmente três modalidades de turismo: observação embarcada da fauna marinha, stand-up paddle e caiaque

Após décadas de isolamento e preservação rigorosa, o Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos (REVIS), única unidade de conservação marinha do Rio Grande do Sul, localizada a cerca de dois quilômetros da costa de Torres, está prestes a inaugurar uma nova fase em sua história: a abertura controlada ao turismo ecológico. O anúncio, feito pelos analistas ambientais Juliano Rodrigues Oliveira e Aline Kellermann, respectivamente chefe e chefe substituta do REVIS, marca um avanço no equilíbrio entre a conservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais da região.

A iniciativa é resultado de anos de estudos, consultas públicas, diagnósticos ambientais e articulações institucionais, explica Juliano. “Desde 1983, quando a ilha foi oficialmente protegida por pressão popular para garantir a integridade dos lobos e leões-marinhos que ali se abrigavam, a área vem ando por um processo de amadurecimento na sua gestão ambiental”.

TURISMO NO REVIS ILHA DOS LOBOS

Inicialmente classificada como Reserva Ecológica, a unidade teve sua categoria modificada em 2005 para Refúgio de Vida Silvestre (REVIS) com a implementação da Lei nº 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Com a mudança, seus limites se expandiram da superfície da ilha para abranger também os 500 metros de seu entorno marinho, totalizando uma área de 142,39 hectares.

Os analistas explicaram em entrevista recente na Rádio Maristela 106.1FM, que a proposta de abertura gradual contempla inicialmente três modalidades de turismo: observação embarcada da fauna marinha, stand-up paddle e caiaque. “Essas atividades foram selecionadas a partir de uma pesquisa realizada em 2021 com moradores e visitantes de Torres, a qual revelou grande interesse do público nessas experiências. O mergulho e o surfe de ondas gigantes, conhecido como tow-in, também estão no plano de liberação futura, mas dependem de novos estudos técnicos para avaliação de viabilidade ambiental e operacional”, explica a analista ambiental Aline.

A previsão é que as duas primeiras atividades, o stand-up paddle e o caiaque, sejam oficialmente liberadas entre os dias 14 e 18 de julho de 2025. Já o turismo embarcado dependerá da finalização de um edital de credenciamento, atualmente em elaboração. Para garantir segurança e respeito aos limites ecológicos, todas as atividades seguirão protocolos operacionais rigorosos.

“Estamos concluindo os protocolos específicos para cada atividade. Eles vão trazer orientações claras sobre riscos, cuidados, procedimentos de emergência e regras de conduta para garantir que tanto os visitantes quanto a fauna estejam protegidos”, afirma o chefe do REVIS Ilha dos Lobos.

TURISMO x PRESERVAÇÃO

Atividades como caiaque e stand-up paddle serão liberadas com agendamento e regras de segurança

As regras de uso incluem o agendamento prévio e a de um termo de ciência dos riscos, especialmente para atividades aquáticas como caiaque e stand-up paddle. Não será permitido o desembarque na ilha, considerada uma zona de máxima preservação. A aproximação dos visitantes será limitada por critérios técnicos, como a distância mínima para evitar estresse nos animais, definidos com base em estudos desenvolvidos em parceria com instituições científicas, como a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Essa abertura é compatível com a categoria de Refúgio de Vida Silvestre, que permite atividades de baixo impacto ambiental desde que sejam controladas e monitoradas. Para o ICMBio, que desde 2007 é responsável pela gestão da unidade, a implementação do turismo ecológico representa uma oportunidade de fortalecer a relação da sociedade com o meio ambiente, promover a educação ambiental e estimular o desenvolvimento econômico sustentável da região.

GESTÃO AMBIENTAL

Com sede agora instalada na Praia da Cal, em Torres, o REVIS Ilha dos Lobos vem investindo em estrutura, pessoal e comunicação. A equipe do refúgio, que já conta com analistas e biólogos, está sendo ampliada para atender à nova demanda de monitoramento e educação ambiental. A população local também tem papel fundamental nesse processo: a Secretaria Municipal de Turismo de Torres, organizações da sociedade civil e representantes de comunidades locais participam ativamente do Conselho Gestor da unidade, onde contribuem com decisões estratégicas e construção dos protocolos de uso público.

A gestão do uso público foi cuidadosamente planejada com base no Rol de Oportunidades de Visitação em Unidades de Conservação (ROVUC), metodologia que auxilia na definição de experiências turísticas compatíveis com os objetivos de conservação.

A visão de futuro estabelecida para a unidade é ambiciosa: tornar-se referência em conservação da biodiversidade e geodiversidade marinha no sul do Brasil, integrando educação ambiental, turismo sustentável e desenvolvimento econômico regional.

A pesquisa de percepção pública realizada em 2021 também revelou o perfil do turista típico da região de Torres. A maioria dos visitantes se identifica com o turismo de sol e praia, com presença intensa durante o verão. Em seguida, aparecem o turismo de aventura, o ecoturismo e o turismo gastronômico. A partir dessa realidade, os planejadores do REVIS Ilha dos Lobos buscaram alinhar as atividades propostas com o perfil dos usuários, ao mesmo tempo em que garantem o mínimo impacto à fauna e flora marinha.

HABITANTES E CUIDADOS

Sede do REVIS, na Praia da Cal, está aberta à comunidade para educação ambiental e orientações

Entre os animais que habitam ou am pela Ilha dos Lobos, destacam-se o lobo-marinho-sul-americano (Arctocephalus australis) e o leão-marinho-do-sul (Otaria flavescens), além de espécies migratórias como a baleia-franca-austral. Por ser o ponto mais ao norte da costa atlântica brasileira com ocorrência regular de pinípedes, a área tem grande relevância ecológica. A preservação desses animais exige cuidados especiais, especialmente durante o inverno, quando a presença de grandes grupos é mais comum.

Os gestores alertam para a importância de condutas responsáveis por parte da população, inclusive nas praias. Ao encontrar um animal marinho, a recomendação é manter distância, não tentar tocar ou mover, sinalizar o local e acionar os canais oficiais para atendimento especializado. O contato pode ser feito via WhatsApp pelo número (48) 98809-7816 ou pelo @revisilhadoslobos no Instagram do REVIS Ilha dos Lobos.

DIVULGAÇÃO

Outro pilar dessa nova etapa é a comunicação com o público. Antes do início das atividades, placas informativas serão instaladas na orla de Torres, além da produção de materiais explicativos e infográficos para redes sociais. A intenção é garantir que moradores e turistas compreendam não apenas o funcionamento das atividades, mas também os cuidados necessários para que a visitação seja segura, educativa e harmoniosa com os objetivos de conservação.

A localização privilegiada da ilha, com sua beleza cênica e proximidade de outras áreas naturais protegidas como o Parque Estadual de Itapeva e o Parque da Guarita, reforça seu potencial como destino de ecoturismo. A região já é reconhecida nacionalmente por suas formações geológicas, ondas propícias à prática de esportes e biodiversidade costeira. O turismo de base comunitária também é apontado como uma oportunidade para valorizar tradições indígenas e pesqueiras locais, promovendo inclusão e geração de renda.

Por fim, o desafio da abertura ao público impõe à gestão do REVIS Ilha dos Lobos um equilíbrio delicado entre ampliar o o à natureza e garantir sua proteção integral.

“Nosso compromisso é com a conservação. A visitação só será permitida com base em dados científicos e de maneira ordenada. Acreditamos que é possível criar uma relação positiva entre as pessoas e o ambiente natural se houver respeito, educação e responsabilidade”, afirma Aline.

Assim, a Ilha dos Lobos se posiciona como um símbolo de conciliação entre proteção ambiental e fruição sustentável, com potencial para inspirar outras unidades de conservação marinhas no Brasil. A expectativa é que, nos próximos anos, a experiência de visitação se consolide como uma referência de turismo ecológico no país, sempre com a natureza em primeiro lugar.

Lobos e leões-marinhos repousam na Ilha dos Lobos, área de preservação máxima no litoral norte do RS

FOTOS: ARQUIVO REVIS ILHA DOS LOBOS

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