Home Especial Chuvas causam prejuízo em diversos setores da economia no Litoral Norte gaúcho e Sul catarinense

Chuvas causam prejuízo em diversos setores da economia no Litoral Norte gaúcho e Sul catarinense

por Melissa Maciel

A região enfrentou impactos significativos em sua agricultura e pecuária, além de danos em vias, pontes, escolas, unidades de saúde e habitações. Além disso, chegou a abrigar mais de 41 mil pessoas provenientes da região metropolitana.

Foto: Arquivo STR | Agricultura é o setor mais impactado pelas chuvas na região

Chuvas intensas como as que ocorreram nas últimas semanas no Rio Grande do Sul são eventos extremos com tendência a serem mais frequentes em todo o mundo. Segundo o pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e co-presidente do Científico para a Amazônia, Carlos Nobre, é preciso haver conscientização sobre as mudanças climáticas.

“Todo mundo precisa abrir os olhos. No mundo inteiro, esses fenômenos extremos estão acontecendo. Em 2021 tivemos recorde de chuvas em uma parte da Europa, e morreram mais de 100 pessoas. Em 2022, houve recorde de chuva no Grande Recife e, em duas horas, em Petrópolis. No ano ado, em fevereiro, tivemos o maior volume de chuva da história do Brasil, com 600 milímetros (mm) em 24 horas no litoral norte de São Paulo, na cidade de São Sebastião. Nas últimas semanas, no Rio Grande do Sul, chegou a 700 e 800 milímetros de chuva, colapsando o Estado”, alerta o climatologista.

E os eventos climáticos extremos, como os sentidos no Brasil, sejam ondas de calor com seca ou grandes volumes de chuvas com enchentes, impactam diretamente a vida das pessoas, sua subsistência, e a manutenção dos serviços públicos. Cidades colapsam e vidas são perdidas.

No Litoral Norte gaúcho, no final de 2023, cidades como Caraá e Maquiné foram fortemente afetadas por chuvas torrenciais em pouco período de tempo. Neste ano, a região foi novamente afetadas, embora menos do que praticamente todo o resto do Estado gaúcho.

IMPACTOS NA REGIÃO

Foto: Arquivo STR | Na região, oito municípios decretaram situação de Emergência

A Associação dos Municípios do Litoral Norte do RS (Amlinorte), fez um levantamento dos impactos das fortes chuvas no início deste mês de maio. Na região, oito municípios decretaram situação de Emergência, reconhecido pelo Decreto Estadual nº 57.614 de 13 de maio de 2024, sendo eles Balneário Pinhal, Capivari do Sul, Dom Pedro de Alcântara, Itati, Maquiné, Palmares do Sul, Santo Antônio da Patrulha e Três Forquilhas. Pelos dados levantados, houve perdas na agricultura na ordem de R$ 183,9 milhões nos municípios de Capivari do Sul, Dom Pedro de Alcântara, Itati, Maquiné, Palmares do Sul, Santo Antônio da Patrulha e Três Forquilhas.

A região também recebeu 41.188 pessoas que aram os serviços públicos, seja na área de Saúde, Assistência Social, além de pedidos de cestas básicas, roupas, calçados, agasalhos, colchões e cobertores, nos dias em que sucederam os altos números de desabrigados no Estado. A maioria desta população ficou abrigada na casa de amigos e parentes, ou locou residências e ainda se encontram no Litoral Norte, demandando serviços médicos e de assistência social, além de pedidos de recuperação de documentos, o aos auxílios estaduais e federais, vagas em escolas e empregos.

De acordo com o presidente da Amlinorte, prefeito João Marcos Bassani dos Santos, de Maquiné, a região precisará de investimentos nos próximos meses, uma vez que somente em seu município as perdas estimadas com estruturas danificadas de vias, bueiros e pontes chegam a R$ 8,1 milhões, além de mais R$ 1,5 milhão para recuperação de unidades habitacionais e escolas.

O presidente da Amlinorte esteve em Brasília nesta semana, entre os dias 20 e 23, participando da Marcha dos Prefeitos da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), onde encaminhou os pleitos da região junto aos parlamentares e órgão da federação.

AGRICULTURA E PECUÁRIA

Na região, os municípios foram severamente impactados por esses eventos climáticos, especialmente na agricultura e pecuária. As enchentes também causaram danos significativos em vias públicas, como estradas e pontes, essenciais para o escoamento da produção e o deslocamento da população. Além disso, houve prejuízos consideráveis em propriedades, com galpões, empresas e residências sendo danificadas.

Foto: Arquivo STR | A expectativa dos municípios é receber recurso do Governo Federal para reverter prejuízos

Em entrevista na Rádio Maristela, na última segunda-feira (20), com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Torres, Arroio do Sal e Dom Pedro de Alcântara, Diana Hahn, foi destacado que em recente reunião da Regional Sindical do Litoral Norte, que reúne nove sindicatos da região,  observou-se que os municípios de Três Forquilhas e Maquiné foram os mais atingidos da região.

Maquiné, pelo segundo ano consecutivo enfrenta chuvas e enchentes. A expectativa do Município é receber recurso do Governo Federal para a reconstrução de habitações e projeto de recuperação de solo. Muitas propriedades de Maquiné, segundo Diana, “mal tinham colocado as verduras no solo e veio a chuvarada e levou tudo novamente”.

Já o município de Três Forquilhas, pelas recorrentes enchentes, a população se preparou com antecedência e deixou suas propriedades antes da chegada das cheias dos rios. O que mais foi afetado no município foram as plantações e o solo que é varrido pela chuva forte.

Na Grande Torres, Dom Pedro de Alcântara tem registro de prejuízos nas lavouras de arroz, pois os produtores ainda não tinham colhido suas lavouras. Pois, por conta da chuva de setembro do ano ado, os produtores precisaram replantar e agora atrasou a colheita e, novamente a enchente causou grandes estragos nas plantações.

A pecuária da região também é fortemente afetada pelas enchentes por conta das áreas de pastagens ficarem submersas e mesmo após a baixa da água, a lama impede que a pastagem seja consumida pelo gado, o que leva mais tempo para o pasto se recuperar.

Foto: Arquivo STR | Pastagens que ficaram submersas estão com lama, impedindo que sejam consumidas pelo gado

Os criadores de gado na região alertam que o gado vai ficar magro, que já não estão conseguindo vender os animais, não se consegue comprar silagem, e a cana nas propriedades que ainda possuem, logo vão acabar. O cenário é de muita dificuldade.

PERDÃO DE DÍVIDAS

Diana relata que, de imediato, a força sindical dos trabalhadores rurais solicitou a prorrogação dos prazos dos financiamentos do PRONAF, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, destinado ao apoio financeiro às atividades agropecuárias exploradas mediante o emprego direto da força de trabalho do produtor e de sua família.

Além do pedido de prorrogação de prazos, Diana explica que a solicitação ao Governo Federal inclui o “perdão de dívidas” dos financiamentos de 2023 e 2024.

“A nossa região está pedindo o perdão de dívida porque já é o segundo ano que temos muitas perdas devido a chuvas e enchentes. No ano ado, isso aconteceu e pedimos a prorrogação, que conseguimos, mas a prorrogação implica pagamento. Então, por mais que no primeiro momento alivie, logo em seguida é preciso acertar com o banco”, reforça a sindicalista.

A proposta para esse ano é pedir ao Governo Federal que se sensibilize e conceda o perdão de dívida de custeios e investimentos, para que as famílias de produtores, criadores e agricultores familiares não desistam de produzir alimentos.

SUL CATARINENSE

As recentes chuvas torrenciais que atingiram o Rio Grande do Sul e o Sul catarinense deixaram estragos em várias cidades da região. Entre os municípios mais afetados estão Praia Grande, São João do Sul e o de Torres, onde as precipitações causaram inundações, bloqueios de rodovias, deslizamentos e transtornos para a população local.

No município de Praia Grande, a situação de emergência foi decretada no dia 2 de maio, após registrar 186 mm de chuva em apenas 48 horas, o maior volume pluviométrico do estado de Santa Catarina no período, conforme dados da Defesa Civil. O bairro 1º de Maio foi especialmente afetado, com 20 pessoas sendo acolhidas temporariamente em um abrigo municipal. Estradas foram interditadas, comunidades ficaram isoladas e desmoronamentos afetaram a infraestrutura local. Porém, a rápida resposta das equipes municipais garantiu o restabelecimento dos os e a reconstrução de pontes danificadas.

Foto: Arquivo PMPG | No Sul catarinense, a rodovia que liga Praia Grande, São João do Sul à BR 101 ficou interditada por alguns dias

Já em São João do Sul, cidade vizinha a Praia Grande, 150 pessoas ficaram desalojadas devido às chuvas, buscando abrigo em casas de parentes e amigos. Algumas comunidades, como Barrinha e Sanga Danta, ficaram isoladas devido às vias interditadas. Apesar dos transtornos, a população conseguiu se preparar para a inundação, seguindo os alertas da Defesa Civil e minimizando os danos materiais.

Em o de Torres, o Rio Mampituba transbordou, afetando diversos bairros e famílias no município. Cerca de 40 pessoas foram abrigadas temporariamente pela prefeitura, enquanto outras residências ficaram isoladas devido aos alagamentos. As autoridades municipais agiram prontamente, realizando a drenagem de pontos críticos, resgatando pessoas e prestando assistência médica às famílias desabrigadas.

Em todas as cidades afetadas, os prefeitos buscaram apoio estadual para enfrentar os impactos das chuvas, solicitando recursos para obras de infraestrutura e fortalecimento das medidas de prevenção de enchentes. A solidariedade e a mobilização das comunidades locais foram fundamentais para enfrentar essa adversidade climática, demonstrando a resiliência dos moradores do Sul catarinense diante dos desafios naturais.

MEIO AMBIENTE

Foto: Arquivo PMPG | Várias comunidades na região ficaram isoladas após cheia dos rios e quedas de pontes

O desafio é cada vez maior devido às mudanças climáticas que afetam a todos globalmente. A presidente do Sindicato de Torres, Arroio do Sal e Dom Pedro de Alcântara afirma que, mais do que nunca, a força sindical local, regional e nacional precisa incluir o meio ambiente e as mudanças climáticas como prioridades ao repensar atividades, ações e mobilizações.

“Estamos dialogando com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG-RS) sobre a necessidade de priorizar a questão ambiental. Desde o ano ado, discutimos que precisamos trazer essa questão para a pauta com muito mais força. Em alguns momentos, enfrentamos secas tão severas que não há água para irrigar as lavouras e para os animais. Em outros, amos por enxurradas que destroem tudo. Com certeza, isso é o nosso clima mostrando que há um descontrole ambiental”, acredita Diana.

Ano após ano, as notícias de enchentes e seus estragos repetem-se em meio a ausência de políticas públicas preventivas contra esse tipo de desastre ambiental.

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